Quem me conhece sabe o quanto gosto de falar. Uma boa conversa, ajuda a criar laços, a pensar de forma diferente e acima de tudo ajuda-nos a perceber os outros.
Na fotografia como na vida em geral, existem diversos pontos de vista relativos aos mais diferentes assuntos, sejam eles o material que se usa, o tipo de fotografia que se faz, o pós-processamento utilizado para realçar o momento e a experiência vivida.
A fotografia, como qualquer outra forma de arte, vive da evolução do autor, e das suas obras enquanto artista. Tendo a pintura como base, pode facilmente perceber-se que a arte que Pablo Picasso deu a conhecer ao mundo passou por diversas fases, desde a retratação de elementos marginalizados pela sociedade na chamada “Fase Azul” até ao expressionismo patente no célebre mural “Guernica” onde retrata a violência e o massacre da população, durante a guerra civil espanhola.
Nada de novo, se partirmos do princípio que TUDO está sempre em constante evolução.
E a fotografia não é diferente…
Aliás, como forma de arte, considero que é capaz de ser uma das que mais tem evoluído nos últimos anos. Com base neste pressuposto, dei comigo no ar puro de uma floresta, embalado pelo canto dos pássaros a tentar obter respostas.
Todos sabemos que a quantidade de fotografias que se tira a cada segundo é cada vez maior. É um facto indesmentível que a evolução das câmaras e smartphones veio padronizar e uniformizar o acesso à fotografia sendo também certo, que cada vez mais se tiram fotografias para retratar e vivenciar momentos um dia mais tarde! E isso é fantástico…
É mágico ver o brilho nos olhos dos pais, quando visualizam uma fotografia dos seus filhos e percepcionam o quanto a fisionomia de um filho mudou, ou as saudades que alguém que nos é querido e já não está entre nós é recordado numa imagem num telemóvel ou impressa num pedaço de papel. Embora tudo isto seja fotografia, o que vos quero falar hoje, é da fotografia enquanto forma de arte, e acima de tudo, enquanto forma de expressão.
A fotografia enquanto arte, vive hoje tal como o mundo, demasiado rápida. Costumo dizer que o Speedy Gonzalez também se cansava e que por vezes tinha de se esconder e descansar. As redes sociais catapultaram a fotografia para um patamar elevado e o preço a “pagar” por isso, é o consumo rápido.
Enquanto fotógrafo, passo muito mais tempo a consumir fotografia do que a fazer fotografia. Acho que todos nós somos um bocadinho assim. No entanto, aquilo que eu sinto, é que cada vez mais, vejo menos fotografia… E a razão é simples.
O trabalho, o amor, e a experiência que um artista coloca em cada foto, é merecedora de um olhar atento e dedicado. Enquanto pessoa e fotógrafo, não me permito a não tentar perceber o que aquele bocado de informação me transmite, que emoções desencadeia em mim, e não menos importante, tentar perceber a experiência pela qual o autor estava a passar naquele momento. É por essa razão que embora passe muito tempo a ver fotografia, provavelmente só vejo um par delas todos os dias.
Naquela tarde ventosa, naquela floresta cheia de vida estava a fazer o caminho inverso. Os meus pensamentos flutuavam entre aquilo que via, e aquilo que queria mostrar. Entre o medo irracional que me assolava naquele momento e a experiência de magia pura que a natureza me estava a proporcionar.
As conclusões que tirei serão sempre dúbias. Não existe o certo e o errado, nem na fotografia, nem na vida! Diz o ditado, que “Deus que é Deus, não consegue agradar a todos”. Enquanto fotógrafos e amantes da natureza, uma coisa será sempre verdade. O momento, a experiência vivida serão sempre a vitamina para que possamos evoluir e crescer. Anos mais tarde, tudo dará lugar ao sorriso de relembrar aquele momento, quais pais a ver a fotografia de um filho já crescido.